sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Histórias


Adorava todas as histórias que os meus avós contavam de sua terra natal, de suas lembranças da infância e das inúmeras lendas e contos daquele país distante. Elas sempre foram meu elo com o passado, como a própria história da minha família. Foram essas mesmas histórias que também me motivaram a ir ao Japão e descobrir mais sobre a minha família, sobre as minhas origens. Meus avós foram sempre pessoas muito presentes no meu dia-a-dia, principalmente porque tive a chance de viver com todos eles durante a infância. Recentemente o avô de uma grande amiga faleceu e me dei conta de que ela também estava, a partir daquele momento, se desvinculando de seu elo. Desde que meus avós se foram, procuro relembrar sempre todas as histórias que ouvi desde a infância, com a missão de dividi-las com outras pessoas sempre que possível. Chego à conclusão de que as histórias existem para ajudar a explicar a nossa vida, para não esquecermos de onde viemos e nos direcionar o caminho a seguir.
Agradeço a meus avós pela paciência e pelo amor que recebi. Muito do que sou hoje devo a eles, pelo ensinamento recebido, pelo carinho e amor. Cada um de um jeito e de uma maneira muito singular e especial. Penso imediatamente em meus sobrinhos, que não tiveram a chance de conhecer seus bisavós, mas que certamente irão escutar as mesmas histórias que sempre ouvi.

Texto escrito em 09 de abril de 2002.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal



Uma menina chegou em casa atrasada para o jantar.
A sua mãe tentava acalmar o nervoso pai enquanto pedia explicações sobre o que havia acontecido.
A menina respondeu que havia parado para ajudar Jane, a sua amiga, porque ela havia caído e a sua bicicleta se partido.
- E desde quando sabe consertar bicicletas? – perguntou a mãe.
- Eu não sei consertar bicicletas! – disse a menina, eu só parei para ajudá-la a chorar.
Não muitos de nós sabemos consertar bicicletas. E quando os nossos amigos caíram e quebraram, não as suas bicicletas mas suas vidas, poucas vezes tivemos capacidade para consertá-la. Não podemos simplesmente consertar a vida de outra pessoa, embora muitas vezes seja isso o que nós gostaríamos de fazer. Mas como a menina, nós podemos parar para lhes ajudar a chorar.
Se isso for o melhor que nós pudermos fazer… já será muito!
Pense nisso neste Natal.

Muita Paz & Harmonia para você!

Esta mensagem é dedicada à Mô, que me ajudou muito a chorar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Cartas da Batian


Minha avó Haruko foi a pessoa que mais vibrou quando soube que eu ia ao Japão, logo após a minha formatura da faculdade. Foi ela também que pacientemente me ensinou a dar os primeiros passos na língua japonesa, tão enigmática e misteriosa para mim. Com muita persistência, ela conseguiu ensinar não só a língua, mas também sua experiência de vida, desde quando deixou o Japão ainda criança, a cultura de sua terra natal, suas preciosas lembranças, a culinária, valores e crenças que eu trago até hoje como um verdadeiro tesouro.
Quando me despedi dela, já no aeroporto, a única coisa que lembro foi ela me dizer para ser forte, feliz e que não nos veríamos mais. Infelizmente estava certa.
Desde que lá cheguei, suas cartas em japonês que vinham do Brasil eram minha alegria após uma semana longa de trabalho num mundo totalmente novo e diferente, amenizando a saudade. Em resposta às suas cartas, ainda num mundo desprovido de internet, cam ou skype, falava com emoção sobre o Japão, uma terra desconhecida para mim, mas ao mesmo tempo conhecida através de nossas inúmeras conversas entre um neto curioso e uma avó muito querida. As emoções maiores vieram quando conheci a cidade onde havia nascido e vivido, a escola onde tinha aprendido as primeiras palavras.. Descobri que minha família tinha raízes muito mais profundas e histórias divertidas também, típicas de uma família japonesa... Após algum tempo, retornei novamente a Nagano, nos alpes japoneses, a sua terra natal, para um trabalho temporário num hotel de uma estação de esqui, aproveitando as férias de final de ano. Trabalho duro, muitas horas de trabalho, mas aprendi a esquiar, uma proeza e tanto!
Janeiro, dia 1. O ano novo começa e tenho um sonho com a minha Batian. Conversamos e damos risadas gostosas. Comento o fato com um amigo brasileiro, que só diz que ela estava bem longe de nós. Estranho como sinto a sua presença bem forte junto a mim, penso muito nela e tenho saudade. Recebo, algumas horas depois, a notícia de que ela havia partido, logo nas primeiras horas do ano. O primeiro pensamento que me veio foi: "Que dia bonito para se partir!"
Mas veio seguido de muita tristeza. E veio também uma sensação de alívio e me sinto melhor.
Olho pela janela do quarto e neva bastante lá fora. Uma visão bonita, mas triste. Ainda está escuro. De repente me vem à mente um fato que não havia pensado antes: que eu estava exatamente onde ela havia nascido e ela partiu exatamente de onde eu havia nascido... Me senti feliz e me emocionei muito por esta coincidência, algo que somente eu e ela soubéssemos, como se fosse um segredo entre nós, sabe? E posso afirmar que foi nesse momento que me senti mais próximo dela do que de qualquer pessoa ou coisa por mim conhecida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Amor entre os Seres




Há pouco tempo atrás, assistindo o programa The Animal Planet, um casal de patinhos estava sendo resgatado pelos bombeiros debaixo de uma casa. Um deles, a fêmea, estava com a asa quebrada, que a impedia de se mexer. Para a surpresa dos bombeiros, o macho, que poderia ter fugido diante da aproximação humana, preferiu ficar ao lado da fêmea, mesmo sabendo do risco óbvio de ser capturado.
Ambos foram resgatados e o macho não ofereceu resistência alguma, ficando sempre junto dela.
À primeira instância, logo imaginei: "Ok, para eles, isso é natural".
Mas imediatamente penso também: "Por que para nós, seres humanos, isso nem sempre é tão natural assim?" O que deveria ser instintivo como acontece com os animais, não nos é, infelizmente.
Ao menor sinal de instabilidade emocional, insegurança ou medo, simplesmente desistimos até mesmo ao simples ato de tentar, diante de todos os riscos que isso pode envolver.
Nossas necessidades individualistas acabam se sobressaindo, sempre. Eu, eu, sempre eu... Acima de todas as outras coisas e pessoas. A tão falada consideração ao próximo infelizmente ainda é tratada em segundo plano. É importante a auto preservação, cuidarmos de nós mesmos e suprirmos nossas próprias necessidades, sim. Mas neste mundo ninguém é totalmente pleno estando completamente só, daí a necessidade de dividirmos, de estarmos juntos a alguém, de estendermos a mão ao próximo, mesmo nos pequenos atos ou pensamentos, sorrindo ao seu vizinho ao entrar no elevador ou cumprimentando o porteiro do prédio onde você trabalha.
Hoje em dia muito é propagada a mentalidade corporativa de trabalho em grupo, para que todos possam tirar o máximo proveito em termos de produtividade. Porém temos que levar em consideração que em alguns casos, outros companheiros possam estar num momento adverso, impossibilitando de se alcançar o almejado objetivo. É nesse momento que devemos ter o discernimento e compreensão para com o próximo.

Assim nossa caminhada terá muito mais força, amor e um significado muito mais profundo.